segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Renúncia e espera, um sonho de Deus para nós.


Administrar o nosso tempo, nessa geração que as horas parecem correr mais depressa, não tem sido tarefa fácil: são compromissos, trabalhos, estudo, entretenimento e muitas outras atividades que nos levam à agitação interior. Não sabemos muito bem por onde começar isso ou aquilo; estamos sempre esquecendo algo; prosseguimos, entretanto, sempre com a sensação de perda. Como se tivéssemos um pouco de horas em crédito com o nosso próprio travesseiro e com aquele sono interrompido.          

Não sou meteorologista. E a pretensão deste artigo não é levantar a discussão sobre a fugacidade das horas. Sou apenas um cristão, domesticado num mundo globalizado, e, que me enquadro no perfil daqueles que esperam no Senhor. Tenho esperado e sonhado junto a Ele, e posso dizer que tenho enfrentado dilemas, pois esperar implica em renunciar, e renúncia da vontade própria não produz anticorpos para dor, de modo que torna a espera dolorida.

Há algumas semanas em um congresso que participei, observei (primeiramente em mim mesmo) a inconstância e irritabilidade numa fila para o almoço. As pessoas que ali estavam reclamavam do calor, e reclamavam também do tempo que havia “estourado” e que já se passava da hora habitual de servir o almoço... Analisei a situação, e, decidi que não reclamaria e que continuaria na fila, mesmo ela sendo quilométrica; mesmo eu estando também irritado e com fome; e mesmo sem vontade de esperar. Esperei. Fiquei por ali, e pude sentir/ouvir a voz de Deus falando comigo e me ensinando que nas grandes filas da vida, mesmo com tantas conversas paralelas e desnecessárias, Ele está por perto, à espera do nosso silêncio interior; à espera da nossa renúncia verdadeira; para nos dar por fim, o seu manjar saciador.
           
Nossa geração é inconstante. Não sabemos esperar nada. Que seja um café, um miojo, ou um bolo, tudo fica pronto dentro de poucos minutos, é só colocar em algum eletro eletrônico... Os celulares com suas funcionalidades e dinamicidades com as redes sociais, proporciona-nos o registro de atividades instantaneamente... Com tantos aplicativos, dispositivos, e conectivos facilitadores em nossa vida, não é possível dizer que desaprendemos esperar? Creio eu que sim (...)
É preciso voltarmos, fazer um exame de consciência, analisarmos, renunciar o excesso em nossas vidas, para aprendermos verdadeiramente esperar no Senhor.

           
QUE “LANCE” É ESSE DE ESPERAR E RENUNCIAR?

Louis Colin (escritor Católico) em seu livro A Vida Interior, cita um trecho que me fez refletir sobre a espera e renúncia (usei o meu marca texto para grifar essa parte), e creio que é interessante compartilhar contigo também: Senhor, quantas vezes e em que devo eu renunciar a mim mesmo? ― Sempre e a toda a hora, nas coisas grandes e nas pequenas. Não excluo nada, quero ver-te completamente despojado de tudo, pois, de outra maneira, como poderás tu pertencer-me e eu a ti, se não estiveres desembaraçado tanto exterior como interiormente de toda a vontade própria? (...) Disse-te muitas vezes e torno ainda a dizer: renuncia a si mesmo, e terás uma grande paz interior. Dá tudo para encontrares tudo, não procures nada, não peças nada; demora-te única e firmemente em mim e me possuirás”. Louis deixa explícito neste trecho do livro, a ideia de que o único caminho para fazer a vontade de Deus e conhecê-lo íntima e profundamente, é renunciando a si próprio. Tenho bebido dessa mesma fonte e crido que, sem renúncia, a espera é desnecessária. Não há cruz sem calvário, do mesmo modo que não há júbilo no fim do esperar, se anteriormente não existiu em nós, um renunciar.

• Abraão, o brother chegado de Deus no Antigo Testamento, Pai da Fé (Gênesis 12, 1-9); esperou pelas promessas de Deus andando contra sua própria esperança, e contemplou o cumprimento dos sonhos do Senhor em sua vida.            
• Ana era estéril, incapaz de gerar vida e descendência, entretanto, soube esperar e confiar no Deus que tudo pode; que levanta do pó o pobre e o faz assentar-se entre príncipes. Ela esperou e também vislumbrou o querer de Deus, que trouxe vida ao profeta Samuel, através de um ventre, antes, estéril (I Samuel 1).     

BELEZA... E O QUE “EU” GANHO EM ESPERAR?     

Usarei a composição do Salmista Davi (o homem segundo o coração de Deus), para responder ao questionamento.

São muitos os sofrimentos do ímpio. Mas quem espera no Senhor, sua misericórdia o envolve. Ó justos, alegrai-vos e regozijai-vos no Senhor. Exultem todos vós, retos de coração.” (Salmos 31, 10-11)          

 “Espera no Senhor e faz o bem; habitarás a terra em plena segurança. Põe tuas delícias no Senhor, e os desejos do teu coração ele atenderá. Confia ao Senhor a tua sorte, espera nele, e ele agirá.” (Salmos 36, 3-5)      
     

Uma vida sem renúncia, altiva, conduzida pelos prazeres e pelo mover da própria vontade, não frutifica em Deus. Como diz Davi no primeiro salmo, são muitos os seus sofrimentos. Não há alegria plena no caminhar do ímpio.

Embora não seja fácil viver a vida de renúncias, quem espera no Senhor e deposita n’Ele a confiança, é envolvido por sua presença constantemente; revestido de proteção e cuidado, mesmo estando diante de grandes problemas farta-se-á sempre das delícias preparadas pelo Pai.   

São tantos motivos para esperarmos em Deus...    

Esperar pela amada(o) que Ele nos prepara; pelo casamento; pelo sonho dos filhos que ainda não vieram; pelo frutificar dos nossos ministérios;
 pela conversão de nossas famílias; pela cura das enfermidades; pela restauração de um povo e redenção da nação... devemos crer e esperar.
         
Entretanto, nossa espera só será honrada, no dia em que aprendermos que a renúncia vem antes da vitória; quando aprendermos a olhar para aquilo que os olhos ainda não podem ver (II Coríntios 4,18);
pois ainda que o mundo seja digital, a renúncia continua sendo analógica: junto dela há sofrimento. E é preciso enfrentá-lo. Eu e você, precisamos tomar partido disso, abraçarmos a cruz, obedecer, renunciar a nós mesmos e contemplar, por fim, após a espera, a concretização do querer de Deus.  

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Por: Fledson Soares      

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